A Leste da airosa e pitoresca povoação do Reguengo do Fetal, a dois passos de Leiria, Batalha e Fátima, sobre um gracioso outeiro, donde se pode disfrutar surpreendente panorama, com a concha do Reguengo aos pés e flanqueado pela estrada coleante que das bandas do ocaso conduz a Fátima, encontra-se situado um dos mais devotos e vetustos santuários marianos do centro do País: - Nossa Senhora da Fé ou do Fetal.
A encantadora e ingénua história da origem deste templo corre ainda hoje viva, de boca em boca, entre os moradores e vizinhos desta terra, cheia de gloriosas tradições cristãs.
E reza assim: - Era uma vez uma pastorinha, que apascentava o seu rebanho pelas encostas áridas e ermas do Reguengo. Em ano de grande e apertada estiagem, andava ela, um dia ali no cabeço, onde agora se encontra o santuário de Nossa Senhora, e, vendo-se ela cheiinha de fome, as suas ovelhinhas tísicas de todo, só com pele e osso, sem febra de verdura para retouçar, encheu-se de tristeza e largou-se a chorar.
Erguendo do regaço o rosto magoado e com os olhos inundados de lágrimas, viu com surpresa, no meio dum tufo de fetos, uma estranha Senhora, que lhe falou assim:
- Porque choras tu, minha menina?
- Tenho fome ...
- Vai pedir pão à tua mãe.
- Já lho pedi, mas ela não o tem.
- Vai a tua casa, - insistiu a Senhora -, e torna a dizer-lhe que te dê pão. Dize-lhe que uma Mulher te mandou dizer-lhe que está pão na arca.
Erguendo do regaço o rosto magoado e com os olhos inundados de lágrimas, viu com surpresa, no meio dum tufo de fetos, uma estranha Senhora, que lhe falou assim:
- Porque choras tu, minha menina?
- Tenho fome ...
- Vai pedir pão à tua mãe.
- Já lho pedi, mas ela não o tem.
- Vai a tua casa, - insistiu a Senhora -, e torna a dizer-lhe que te dê pão. Dize-lhe que uma Mulher te mandou dizer-lhe que está pão na arca.
Efectivamente, verificou-se que a arca estava inexplicavelmente cheia de fresco e saboroso pão, que mais parecia ter sido amanhado por mãos de anjos do que por mãos de hábil padeiro.
Voltando de novo, já satisfeita e alegre ao sítio onde a Senhora lhe aparecera, eis que a pastorinha mais uma vez a pôde ver e com Ela dialogar, recebendo então dos Seus lábios a seguinte mensagem:
- Dize à gente do teu lugar que Eu sou a Mãe de Deus e quero que, no sítio deste fetal, me edifiquem uma ermida, na qual Eu seja louvada e venerada.
A fama do caso espalhou-se com a rapidez do relâmpago e logo ali acorreu, em justificado alvoroço grande e esperançada multidão, achando naquele mesmo sítio uma pequenina e misteriosa imagem de Nossa Senhora e, junto dela, uma fonte miraculosa, com cujas águas se começaram a alcançar assinaladas graças do Céu.
Com o produto das promessas e outras esmolas, fácil e rapidamente se consstruiu uma pequenina ermida, onde se expôs à veneração dos fiéis a miraculosa imagem ali encontrada.
Ignora-se em que época se deu a aparição, bem como a data da construção da primitiva ermida de Nossa Senhora do Fetal.
Mais tarde, em 1585, edificou-se um templo mais amplo e mais sumptuoso, aonde acorriam, em tempos idos e durante todo o ano, grandes e numerosas levas de peregrinos, alguns vindos de muitas léguas de distância; e aonde ainda hoje afluem numerosos devotos, principalmente na Quaresma, a cantar o terço do Roosário; no mês de Maio, a ofertar flores; e dos fins de Setembro, até ao primeiro Domingo de Outubro, a preparar com solene novena a tradicional festa de Nossa Senhora do Fetal, que se celebra nessa data. O maior atractivo, deveras espectacular, desta festividade, reside nas deslumbrantes iluminações dos caracóis.
O Rei D. Duarte confirmou uma provisão antiga da Confraria que autorizava a colheita de esmolas, para manter o culto.
Teve o Santuário de Nossa Senhora do Fetal dois Capelães para atender os peregrinos e celebrar todos os dias duas missas e, por provisão de D. João III, era distribuído um Bodo aos Confrades e Mordomos.
D. Maria I, por provisão de 1791, autorizou uma Feira Franca no 1º Domingo de Outubro.
O Bispo de Leiria, D. Manuel de Aguiar, aplicou no Hospital, que dele tomou o nome, boa parte das ofertas feitas pelos fiéis, ao Santuário de Nossa Senhora do Fetal, e, por isso, mandou da Sé de Leiria para ali, a título de compensação, dois artísticos altares com retábulos de talha e colunas salomónicas.
No mês de Maio de 1896, D. José III, Cardeal Patriarca de Lisboa, ordenou ali preces públicas ad petendam pluviam, a que se associaram as freguesias circunvizinhas, nomeadamente a da Fátima, alcançando do Céu chuva abundante para os campos.
Em memória deste acontecimento, concedeu o venerando Antístite 200 dias de indulgências a quem rezasse uma «Salvé Rainha» diante da imagem de Nossa Senhora do Fetal.
A Senhora do Fetal tornou-se, assim, um dos santuários mais conhecidos e mais visitados em todas estas redondezas.
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